Aquecimento de ideias com Tas e Santaella
Para Marcelo Tas, o termo digital é muito novo em nossa vida, daí a obsessão em acrescentálo a todas as palavras e expressões do cotidiano – cultura digital, TV digital, rádio digital, etc.
O digital simboliza velocidade, interatividade, e compactação de informações, envolvendo
várias formas de captação de imagem, som e texto. Isso não significa que estamos vivendo
uma cultura puramente digital. Como afirma Lúcia Santaella, não se deve julgar que as
transformações culturais são devidas apenas ao advento de novas tecnologias e novos meios de
comunicação. A “cultura das mídias”, nesse caso, pode ser compreendida como fruto dos
processos de produção, distribuição e consumo comunicacionais que se originou da relação
entre a cultura de massas e a cultura virtual, também conhecida como cibercultura.
As crianças e jovens de hoje tratam o computador, o controle remoto, o vídeo game e tantos
outros equipamentos eletrônicos com naturalidade, pois já fazem parte da realidade desta
geração. A ampliação dos canais de comunicação faz com que mídias tradicionais, como a TV
aberta e até mesmo os portais de internet, sofram uma grande transformação para se
adequarem a esse mundo dinâmico. Já as gerações anteriores sentem necessidade de discutir
as influências e o impacto das novas tecnologias nesta era de tanta modernidade.
Segundo Tas, "inventouse a motocicleta e a gente fica falando do pneu, do aro, do banquinho e
não falar da viagem que a gente tem para fazer com a moto". Em outras palavras, esta
afirmativa significa que nosso deslumbramento diante dessa imensa produção tecnológica às
vezes nos deixa cegos e inconscientes acerca dos avanços a que chegamos. Há alguns anos
atrás talvez não acreditássemos na possibilidade de fazermos um curso como este à distância e
muito menos utilizando um ambiente virtual de aprendizagem como a plataforma Moodle, por
exemplo. Hoje, reclamamos ou ficamos insatisfeitos quando ocorre a menor dificuldade neste
ambiente, seja ao postar um arquivo ou enviar uma mensagem. Isso prova que inebriamos
com o deslumbramento e o fascínio pela mídia, ou a tecnologia em si, e esquecemos o que isso
representa em termos de avanço científico e tecnológico.
Revolução digital e mudança de paradigma
Neste novo contexto, a palavra publicação deixa de ser privilégio de emissoras de TV,
gravadoras e editoras. Por meio da internet, qualquer cidadão comum pode publicar vídeos,
fotos, textos e outros conteúdos de seu interesse.
Logo no início da década de 80, chegavam ao Brasil as primeiras câmeras eletrônicas de vídeo. A ideia de produzir vídeo deu origem ao Olhar Eletrônico. Mais tarde, surge o You Tube. Hoje, já existem várias manifestações dessa natureza, mas cada uma delas com sua relevância para a respectiva época, uma vez que o limite para a produção de histórias é criativo e não tecnológico. Isto é, o que importa é a complexidade da mensagem, a ideia , o texto, e não, a ferramenta que o autor (ou emissor) usa para divulgá-la. O cinema moderno também vislumbra grandes feitos graças à tecnologia de ponta. E a evolução das câmeras, bem como a qualidade da imagem e som se deve ao esforço de grandes nomes que fizeram história, como Buster Keaton. Todavia, o que garante o sucesso das produções cinematográficas são as histórias, os sentimentos e inquietações que elas despertam. Produção tecnológica: superestimada ou subestimada? A tecnologia é subestimada pelos preconceituosos e, muitas vezes, pelas pessoas antigas. Exemplo: alguns jornalistas ficam no saudosismo da máquina de escrever e, por isso, insistem em dizer que o computador é nada mais que uma Olivetti com impressora que imprime em tempo real.
Aqueles que a superestimam tendem a focar nas ferramentas e não nas pessoas que fazem uso delas, acham que qualquer blogueiro, por exemplo, é um gênio, simplesmente por utilizar esta ferramenta. Mídia tradicional, internet e comunicação. A mídia e a publicidade tradicional estão muito confusas, apesar estarmos imersos à cultura do acesso, ou seja, à cibercultura. Até mesmo em localidades mais remotas é possível usufruir de televisão, telefone, DVD, antena parabólica e outras mídias. No entanto, mesmo com o surgimento da TV a cabo, da internet, do blog e do Twitter, por exemplo, a audiência não representa relevância. O que de fato mantém a audiência é a relevância do conteúdo. "Então a gente já vive imerso nesta gelatina de informação e cada pessoa tem o seu filtro, sua maneira de se relacionar com isso” (Tas, p. 241). Para a filtragem de uma informação, é essencial que se tenha discernimento. Santaella considera que os meios de comunicação, desde o aparelho fonador até as redes digitais atuais, não passam de canais para a transmissão de informação. Portanto, não os recursos midiáticos que fazem a comunicação, mas sim os códigos e signos de linguagem que neles circulam. Estes sim, são os verdadeiros responsáveis por transmitir mensagens e processos de comunicação que representam a sensibilidade humana e a diversidade cultural.
Teoricamente, “mundo digital” caminha para o discernimento, o que é extremamente precioso
nessa era de tantas informações, onde mais importante que o acesso aos meios tecnológicos é
a comunicação e o conhecimento.
Educação, ciência e tecnologia
Neste cenário digital, a produção do conhecimento deve partir da relação do professor com os
alunos, tendo em vista que o docente não é mais o “detentor”, nem mero transmissor do
conhecimento. Essa premissa ganha força no pensamento de vários teóricos da educação como
Edgar Morin, por exemplo, que afirma que estamos vivendo a era planetária em que os saberes
se integram e devemos compreender o mundo como um todo e a relação de cada parte na
formação do todo. Com efeito, a ciência, a tecnologia, o conhecimento que se divide em áreas, e
até mesmo o saber empírico devem estar conectados, formando uma tessitura que é o
conhecimento real, capaz de transformar o mundo e a humanidade.
*Pedagoga, Especialista em Docência Universitária e Pós-Graduanda em Mídias na Educação pela UFG.
Referências bibliográficas:
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro; tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne
Sawya; revisão técnica de Edgar de Assis Carvalho. 9 ed. São Paulo: Cortez. Brasília, DF: UNESCO, 2004.
SANTAELLA, Lúcia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Disponível na Internet -
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/3229/2493>. Acesso em 15/01/2012.
TAS, Marcelo. Entrevista. In: SAVAZONI, Rodrigo; COHN, Sérgio (orgs). Cultura Digital. br. Rio de Janeiro: Beco do
Azougue, 2009.
*Pedagoga, Especialista em Docência Universitária e Pós-Graduanda em Mídias na Educação pela UFG.
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