sábado, 28 de janeiro de 2012

Revolução digital, cultura e educação

Aquecimento de ideias com Tas e Santaella 

Por Marta Fonseca de Brito*

Para Marcelo Tas, o termo digital é muito novo em  nossa vida, daí a obsessão em acrescentá­lo a todas  as palavras e expressões do cotidiano – cultura  digital, TV digital, rádio digital, etc.  O   digital   simboliza   velocidade,   interatividade,   e    compactação   de   informações,   envolvendo  várias formas de captação de imagem, som e texto. Isso não significa que estamos vivendo  uma   cultura   puramente   digital.   Como   afirma   Lúcia   Santaella,   não   se   deve   julgar   que   as  transformações culturais são devidas apenas ao advento de novas tecnologias e novos meios de  comunicação.   A   “cultura   das   mídias”,   nesse   caso,   pode   ser   compreendida   como   fruto   dos  processos   de   produção,   distribuição  e   consumo   comunicacionais   que   se   originou   da   relação  entre a cultura de massas e a cultura virtual, também conhecida como cibercultura.  As crianças e jovens de hoje tratam o computador,  o controle remoto, o vídeo game e tantos  outros equipamentos   eletrônicos com naturalidade, pois já fazem parte da realidade desta  geração. A ampliação dos canais de comunicação faz com que  mídias tradicionais, como a TV  aberta   e   até   mesmo     os   portais   de   internet,   sofram   uma   grande     transformação   para   se  adequarem a esse mundo  dinâmico. Já as gerações anteriores sentem necessidade de discutir  as influências e o impacto das novas  tecnologias nesta era de tanta modernidade.  

Segundo Tas, "inventou­se a motocicleta e a gente fica falando do pneu, do aro, do banquinho e  não   falar   da   viagem   que   a   gente   tem   para   fazer   com   a   moto".   Em   outras   palavras,   esta  afirmativa significa que nosso deslumbramento diante dessa imensa produção tecnológica às  vezes nos deixa cegos e inconscientes acerca dos avanços a que chegamos. Há alguns anos  atrás talvez não acreditássemos na possibilidade de fazermos um curso como este à distância e  muito menos utilizando um ambiente virtual de aprendizagem como a plataforma Moodle, por  exemplo. Hoje, reclamamos ou ficamos insatisfeitos quando ocorre a menor dificuldade neste  ambiente, seja ao postar um arquivo ou enviar uma mensagem. Isso prova que inebriamos  com o deslumbramento e o fascínio pela mídia, ou a tecnologia em si, e esquecemos o que isso  representa em termos de avanço científico e tecnológico.  Revolução digital e mudança de  paradigma Neste   novo   contexto,   a   palavra   publicação   deixa   de  ser   privilégio   de   emissoras   de   TV,  gravadoras e  editoras. Por meio da internet, qualquer cidadão  comum pode publicar vídeos,  fotos, textos e outros  conteúdos de seu interesse.

Logo no início da década de 80, chegavam ao Brasil as  primeiras câmeras eletrônicas de vídeo.  A ideia de   produzir vídeo deu origem ao Olhar Eletrônico.   Mais tarde, surge o You Tube.  Hoje,   já   existem     várias   manifestações   dessa   natureza,   mas   cada     uma   delas   com   sua  relevância  para   a  respectiva    época,   uma   vez   que   o   limite   para  a   produção   de   histórias   é  criativo e não tecnológico. Isto é, o que importa é a complexidade da mensagem, a ideia , o  texto, e não, a ferramenta que o autor (ou emissor) usa para divulgá-­la.   O   cinema   moderno   também   vislumbra   grandes   feitos   graças   à   tecnologia   de   ponta.   E   a  evolução das câmeras,  bem como a qualidade da imagem e som se deve ao esforço de grandes  nomes   que   fizeram   história,   como   Buster   Keaton.   Todavia,   o   que   garante   o   sucesso   das  produções  cinematográficas   são   as   histórias,   os   sentimentos   e   inquietações   que   elas  despertam.  Produção tecnológica: superestimada ou subestimada? A   tecnologia   é   subestimada   pelos   preconceituosos  e,   muitas   vezes,   pelas   pessoas   antigas.  Exemplo:  alguns jornalistas ficam no saudosismo da  máquina de escrever e, por isso, insistem  em dizer  que o computador é nada mais que uma Olivetti  com impressora que imprime em  tempo real.

Aqueles que a superestimam tendem a focar nas  ferramentas e não nas pessoas que fazem uso  delas, acham que qualquer blogueiro, por  exemplo, é um gênio, simplesmente por utilizar  esta  ferramenta. Mídia tradicional, internet e  comunicação. A mídia e a publicidade tradicional estão muito  confusas, apesar estarmos imersos à cultura  do acesso, ou seja, à cibercultura. Até mesmo em localidades mais remotas é possível usufruir  de televisão, telefone, DVD, antena parabólica e outras mídias.   No entanto, mesmo   com o  surgimento da TV a cabo, da internet, do blog e do Twitter, por exemplo, a  audiência   não  representa relevância. O que de fato mantém a audiência é a  relevância do conteúdo. "Então a gente já vive imerso nesta gelatina de informação e cada pessoa tem o seu filtro, sua  maneira   de   se   relacionar   com   isso”   (Tas,   p.   241).  Para   a   filtragem   de   uma  informação, é essencial que se tenha discernimento. Santaella considera que os meios de comunicação, desde  o aparelho fonador até as redes digitais atuais, não passam de canais para a transmissão de  informação. Portanto, não os recursos midiáticos que fazem a comunicação, mas sim os códigos  e   signos   de   linguagem   que   neles   circulam.   Estes   sim,   são   os   verdadeiros   responsáveis   por  transmitir mensagens e processos de comunicação que representam a sensibilidade humana e  a diversidade cultural. 

Teoricamente,  “mundo digital” caminha para o discernimento, o  que é extremamente precioso  nessa era de tantas informações, onde mais importante que o acesso aos  meios tecnológicos é  a comunicação e o  conhecimento.  Educação, ciência e tecnologia Neste cenário digital, a produção do conhecimento  deve partir da relação do professor com os  alunos, tendo em vista que o docente não é mais o “detentor”,   nem mero   transmissor do  conhecimento. Essa premissa ganha força no pensamento de vários teóricos da educação como  Edgar Morin, por exemplo, que afirma que estamos vivendo a era planetária em que os saberes  se integram   e devemos compreender o mundo como um todo e a relação de cada parte na  formação do todo. Com efeito, a ciência, a tecnologia, o conhecimento que se divide em áreas, e  até   mesmo   o   saber   empírico   devem   estar   conectados,   formando   uma   tessitura  que   é   o  conhecimento real, capaz de transformar o mundo e a humanidade. 

 *Pedagoga, Especialista em Docência Universitária e Pós-Graduanda em Mídias na Educação pela UFG.


Referências bibliográficas: 

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro; tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawya; revisão técnica de Edgar de Assis Carvalho. 9 ed. São Paulo: Cortez. Brasília, DF: UNESCO, 2004.
SANTAELLA, Lúcia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Disponível na Internet - http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/3229/2493>. Acesso em 15/01/2012. TAS, Marcelo. Entrevista. In: SAVAZONI, Rodrigo; COHN, Sérgio (orgs). Cultura Digital. br. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2009. *Pedagoga, Especialista em Docência Universitária e Pós-Graduanda em Mídias na Educação pela UFG.